2010/03/02

Casos

Manhã cedo. Uma mulher explicava às amigas que o seu vizinho do quinto andar, casado, com dois filhos, andava a dormir com certa loira que também costumava apanhar o comboio das oito e vinte. Têm um caso, concluiu. A mulher falava muito baixinho. Assuntos de encornanço devem falar-se com discrição, com cuidado e tento na língua, que a gente nunca sabe quando a desgraça nos bate à porta. Tive pena do vizinho do quinto andar. Não por as mulheres do comboio virem, logo pela manhã, a escarafunchar na sua vida íntima. Meteu-me pena que o homem tivesse um caso. Antigamente, os homens não tinham casos. Tinham amantes. E tudo era diferente. Ter um amante é uma coisa quase literária. Infelizmente, os amantes estão em desuso. Estão fora de moda. Já não se usam. Ninguém diz que tem um amante. As pessoas agora têm casos. Conhecem-se na internet, nos ginásios, nos escritórios, nas empresas. Ter um caso é uma coisa muito ordinária. Um dia, que seja infiel, exijo ter um amante. Não sou mulher de ter casos.