2006/08/03

Serial Killer Barreirense (3)

Perto de Santa Apolónia, a música muda. Um jazz antigo, daqueles cheios de melodia, de clarinetes e outros instrumentos de sopro, enche o táxi. O condutor entusiasma-se. Aumenta o volume. Começa a bater com a mão na perna, marcando o ritmo. É engraçado, este homem, mesmo que seja um psicopata. Quando chega à minha porta, pergunto-lhe que rádio era aquela. Não é comum ouvir música assim dentro de um táxi, explico-lhe. Ele alegra-se. E explica “Ó minha senhora, isto é uma rádio onde só passa música de classe! Só música de classe! Deixe cá ver…. Como é que é? 106. 2 FM. É isso! Só música de classe! Eu logo vi que a senhora também era uma senhora de classe. Aparece-me para aí com cada ordinária!”. Dei-lhe uma gorjeta de dois euros. Não costuma dar gorjetas a ninguém. É um gesto que me incomoda. Mas este taxista é especial, que diabo. Depois, não encontro outra maneira de lhe retribuir o apaziguamento que me trouxe a travessia pela cidade ouvindo aquelas músicas tão bonitas. Antes de meter a chave à porta olho para trás. O taxista acena-me. Agora que me deixou, é certo, certinho, que vai rodar a cidade em busca de uma velhinha, de cabelos brancos. Vai levá-la para o seu apartamento no Barreiro e depois vai degolá-la ao som dos prelúdios de Debussy.