2015/06/08

Areal

Quando o negro das pulseiras passa no areal, serpenteando entre guarda-sóis, à procura de freguesas que queiram uma fitinha da nossa senhora do Bonfim, deixa no ar um cheiro intenso a suor. A rapariga de cabelo oxigenado, o biquíni branco, muito cavado, enfiado no rego do rabo, faz uma careta de nojo e, com exagero, abana a mão em frente do rosto. O namorado, musculado e tatuado, ri numa hilaridade forçada, tão boçal, que a argolinha que traz presa no mamilo esquerdo se solta e cai na areia da praia. Que aflição! Agora a rapariga do cabelo oxigenado anda ali, de rabo para o ar, à procura da argolinha de ouro. O namorado merece o esforço, não cheira a catinga, isso não, cheira a patchouli, a madeiras de sândalo, é tão bonito e um dia, se Deus quiser, há-de ter um Audi descapotável. A loira dá um grito estridente. Encontrou finalmente o pequeno tesouro. O namorado puxa-a para si e beija-a à vista de todos. Voltam a rir. Riem durante muito tempo, esquecidos do negro que passou no areal e deixou no ar um cheiro intenso a suor.