2015/06/03

Kamikaze

O problema, como lhes costumo dizer, é deles, não meu. Não tenho compromissos, sou livre como uma borboletinha. Não traio ninguém. Três homens casados, mas muito diferentes. Conheço o Alexandre há dez anos, encontramo-nos em quartos de hotel quando nos apetece. Os nossos corpos conhecem-se de outras vidas, encaixamos perfeitamente, tocamo-nos como bichos, sem filtros, sem inibições. Ele sabe o que me dá prazer. Sei o que lhe dá prazer. Gosta, por exemplo, que lhe lamba os testículos. Nunca me fala da mulher ou dos filhos. A última vez que estivemos juntos explicou-me o que era uma didascália e, depois de me beijar as mamas, disse que eu era uma mulher-kamikaze. É o amante perfeito. Não trocamos mensagens, não falamos ao telefone, não nos encontramos para almoçar. O segundo amante, recente, novato, é muito diferente. Encontrei-o por acaso na fila do pão. Bonito e escultural, mas um pouco parvo. Empolga-se, diz que os meus olhos castanhos são lindos e que a minha boca tem a cor das framboesas maduras. Que tédio, que miserável tédio! Chama-se Miguel e acho que o vou deixar. Fala-me de amor, um amor aborrecido e previsível, mas depois, pobre coitado, partilha comigo histórias sobre a mulher e as duas filhas. Na semana passada, depois de me oferecer um livrinho de merda que naturalmente não lerei, disse que a mulher, empregada bancária, é a rocha que sustenta a sua vida. Não vou para a cama com um homem para o ouvir falar da sua mulher. O terceiro homem casado com quem me deito é o homem que amo. Um homem inteligente, bonito, o mais bonito do mundo, não há homem igual, mas pelo qual não tenho qualquer tipo de entusiasmo sexual. Deito-me com esse homem quando ele quer, sou dissimulada, detestável, finjo orgasmos, simplesmente porque preciso de senti-lo perto de mim.