2016/02/23

Labirinto

Acordei triste, sem vontade de ir trabalhar e com uma dor lancinante nas costas. Levantei-me com dificuldade e, só quando me despi para tomar banho, reparei que tinha um pequeno punhal enterrado nas costas. Não tentei tirá-lo. Em alternativa, tomei um comprimido para as dores e fui passear para a Amadora. Caminhei durante três horas. Devagar, apanhando sol, em habitual e despreocupada contemplação. No átrio do Centro Comercial Babilónia, um homem que entrançava o cabelo de uma mulher gorda, ao ver-me passar, apontou para as gotas de sangue no chão. “Não se preocupe. É apenas um rasto que vou deixando para depois conseguir sair do labirinto.” Caminhei durante mais algum tempo. Só parei quando passou o efeito do analgésico e voltei a sentir a lâmina enterrada nas costas. Apanhei o comboio de volta para casa. Tomei outro comprimido para as dores e limpei o sangue seco na minha pele. À noite, deitada de barriga para baixo, escrevi ao Ricardo. “Hoje fui passear à Amadora e acordei com um punhal enterrado nas costas, mas não é por isso que te escrevo. Ando triste. Queres ir almoçar?” O meu amigo ligou-me passados cinco minutos. É um grande amigo. O melhor que se pode ter.