2016/02/09

Fantasmagoria

Sentei-me num banco a vê-los brincar à volta da oliveira do tronco oco. Esperei pela chuva. Pensei na Maria Gabriela Llansol: descascava ervilhas enquanto escutava Bach. Pensei também na Hilda Hilst. Envelheceu numa casa habitada por espíritos, rodeada de cães, com unhas sujas e cigarros que se apagavam nas mãos. Escrevia perto duma figueira centenária. Hilda Hilst nunca teve filhos. Não quis. E Maria Gabriela Llansol? Também não (acho que não). Só mulheres livres, sem filhos, são capazes de se desembaraçar da normalidade. Quando senti o primeiro pingo de chuva no rosto, tirei a agenda da mala e fiquei a olhar para as páginas em branco.