2009/05/24

Afectos

Votarei no Bloco de Esquerda nas próximas eleições europeias. Por uma razão simples. É o único partido que tem, sobre a questão da imigração, a posição que sempre defendi. É uma posição ingénua, dirão alguns, irresponsável e politicamente correcta, gritarão outros e, hoje em dia, eu sei, não se pode ser politicamente correcto. As pessoas tomam-nos por criaturas primitivas. Fazem um esgar de repulsa. Tratam-nos com embaraço. Aliás, hoje em dia, e isso é que é ridículo, é politicamente correcto ser-se politicamente incorrecto. Adiante. Sobre os motivos da minha escolha, acho que, numa altura em que a Itália de Berlusconi é, por muitos, sentida como um exemplo de coragem é importante dar voz a quem não tem da Europa a ideia de uma fortaleza que admite os imigrantes (melhor chamar-lhes escravos) apenas e tão só na medida das suas próprias necessidades. Não me canso de perguntar: então, e as necessidades deles? Se as políticas de imigração adoptadas pelos países europeus, para além das suas próprias necessidades, não tiverem em consideração as dos imigrantes (e não têm tido!), ter-se-á de concluir que o princípio da igualdade de direitos, tão bonito, tão citável a propósito disto e daquilo, apesar de consagrado nos textos internacionais e nas constituições de todos os países, é desprovido de qualquer sentido útil, incapaz de empreender qualquer tarefa de garantia contra as desigualdades e discriminações. Gosto, depois, genuinamente do Miguel Portas e os afectos também são importantes quando escolhemos um candidato. De resto, em pouco ou nada, concordo com o Bloco de Esquerda. Porém, para quem, como eu, vive dilacerada entre o seu lado direito e o seu lado esquerdo, nem sempre é fácil encontrar critérios e definir parâmetros para tomar decisões.