2009/05/26

Chelas

O comboio atravessa o vale de Chelas onde, no meio das torres coloridas, há hortas e quintalejos. As ervas rompem por toda a parte, selvagens, e as nespereiras enchem-se de frutos manchados. Há papoilas e tufos brancos de marcelas. Velhos, de boina e pulôveres muitos coçados, entretêm-se pela tarde a regar, a apanhar os caracóis que rendilham as folhas das faveiras, a fazer sulcos na terra seca. Nos bidões velhos plantam morangueiros, salsa e hortelã. Os coelhos, de pêlo castanho, saltitam perto dos carris. Quando a noite cai solta-se um cheiro adocicado e fresco das hortas que perfuma o bairro de Chelas.
(Gosto de Chelas porque não vivo lá. Vivesse eu numa dessas torres de papelão e não encontraria beleza, nem poesia no bairro. Passeio por Chelas com o mesmo sentimento com que desço a Almirante Reis e entro no Centro Comercial da Mouraria. Fico inebriada com um mundo que não é meu.)