Sou Ana de cabo a tenente/ Sou Ana de toda patente, das Índias/ Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada/ Sou Ana, obrigada/ Até amanhã, sou Ana/ Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos/ Sou Ana de Amsterdam.
2009/05/28
Campanha
“Os jornalistas são semi-intelectuais, semi-educados, impreparados e partidários”, explicou há tempos, em entrevista ao Público, Daniel Dylan, investigador francês. Verdade tão pura. Bastaram dois ou três dias de campanha para perceber como é desonesta a cobertura que as televisões dela fazem. O PSD é tratado sempre em tom jocoso. Segundo os jornalistas, tudo se faz com esforço, sem empenho, a contragosto, como se os candidatos tivessem uma arma apontada à cabeça. O PCP é tratado como um bando de velhos caquécticos, uma espécie de espectros anacrónicos que se limita a balbuciar a conversa do costume. O CDS é reduzido ao paulinho das feiras, às velhotas de Ponte de Lima, de lenço na cabeça e bigode hirsuto, que se agarram aos candidatos com beijos babosos. Em contrapartida, o BE, claro está, é tratado como a terceira força, pujante de energia, vitalidade, capaz de surpreender na noite das eleições com um resultado histórico. Vivam as arruadas, os candidatos dançando, os trompetes e as pandeiretas! O PS, por sua vez, não obstante as limitações evidentes do seu cabeça de lista - a história do imposto europeu é apenas a cereja que faltava no bolo das propostas inesperadamente inconsistentes que tem feito - é tratado com a brandura do costume. A gente sabe que os jornalistas são, em regras, socialistas ou bloquistas. Está-lhes no sangue. Faz parte do seu código genético. Os jornalistas têm direito de ser o que muito bem quiserem. Não têm é o direito de nos tomar por parvos.
Natália
Encontrei a minha empregada, logo pela manhã, muito chorosa e ranhosa. Enfiada atrás da tábua da roupa, manejando com pouca destreza o ferro de engomar, lá me confessou que o marido, depois de trinta e cinco anos de casamento, se queria divorciar. "Até já me pediu o bilhete de identidade!", disse, passando com fúria a única camisa branca que me sobra. "Deve estar caidinho por alguma russa ou brasileira”. Silêncio breve. “ São todas umas putas!". Eu, tirando as remelas dos olhos, com pouca paciência para a justificadíssima xenofobia matinal da D. Anabela, cumpri o meu triste papel de patroa licenciada em direito e esforcei-me por lhe explicar as diferenças entre os divórcios litigiosos e os outros, as consequências no que respeita a bens e pessoas, os trâmites e procedimentos que hão-de ocorrer. Ela agradeceu a minha disponibilidade para a ajudar e continuou a passar, com fúria, as t-shirts do João. Invejei-a de um modo estulto mas sincero. Por breves instantes, desejei que uma ucraniana leitosa, de olhos verdes, bem formada, boa pessoa, carinhosa, amiga das crianças, inteligente e tudo o mais, aparecesse no caminho do meu marido.
(Já expliquei em tempo: nem tudo o que aqui se escreve é verdade. Por exemplo: nunca uso camisas brancas.)
2009/05/27
2009/05/26
Chelas
O comboio atravessa o vale de Chelas onde, no meio das torres coloridas, há hortas e quintalejos. As ervas rompem por toda a parte, selvagens, e as nespereiras enchem-se de frutos manchados. Há papoilas e tufos brancos de marcelas. Velhos, de boina e pulôveres muitos coçados, entretêm-se pela tarde a regar, a apanhar os caracóis que rendilham as folhas das faveiras, a fazer sulcos na terra seca. Nos bidões velhos plantam morangueiros, salsa e hortelã. Os coelhos, de pêlo castanho, saltitam perto dos carris. Quando a noite cai solta-se um cheiro adocicado e fresco das hortas que perfuma o bairro de Chelas.
(Gosto de Chelas porque não vivo lá. Vivesse eu numa dessas torres de papelão e não encontraria beleza, nem poesia no bairro. Passeio por Chelas com o mesmo sentimento com que desço a Almirante Reis e entro no Centro Comercial da Mouraria. Fico inebriada com um mundo que não é meu.)
2009/05/24
Afectos
Votarei no Bloco de Esquerda nas próximas eleições europeias. Por uma razão simples. É o único partido que tem, sobre a questão da imigração, a posição que sempre defendi. É uma posição ingénua, dirão alguns, irresponsável e politicamente correcta, gritarão outros e, hoje em dia, eu sei, não se pode ser politicamente correcto. As pessoas tomam-nos por criaturas primitivas. Fazem um esgar de repulsa. Tratam-nos com embaraço. Aliás, hoje em dia, e isso é que é ridículo, é politicamente correcto ser-se politicamente incorrecto. Adiante. Sobre os motivos da minha escolha, acho que, numa altura em que a Itália de Berlusconi é, por muitos, sentida como um exemplo de coragem é importante dar voz a quem não tem da Europa a ideia de uma fortaleza que admite os imigrantes (melhor chamar-lhes escravos) apenas e tão só na medida das suas próprias necessidades. Não me canso de perguntar: então, e as necessidades deles? Se as políticas de imigração adoptadas pelos países europeus, para além das suas próprias necessidades, não tiverem em consideração as dos imigrantes (e não têm tido!), ter-se-á de concluir que o princípio da igualdade de direitos, tão bonito, tão citável a propósito disto e daquilo, apesar de consagrado nos textos internacionais e nas constituições de todos os países, é desprovido de qualquer sentido útil, incapaz de empreender qualquer tarefa de garantia contra as desigualdades e discriminações. Gosto, depois, genuinamente do Miguel Portas e os afectos também são importantes quando escolhemos um candidato. De resto, em pouco ou nada, concordo com o Bloco de Esquerda. Porém, para quem, como eu, vive dilacerada entre o seu lado direito e o seu lado esquerdo, nem sempre é fácil encontrar critérios e definir parâmetros para tomar decisões.
2009/05/21
Pénis Tatuado
Pela manhã, no comboio que vem de Alverca, uma mãe gabava a duas companheiras de viagem a tatuagem que o seu Leandro Miguel fizera no pénis. Linda, assegurava, assim tribal a fazer lembrar aquelas tribos da Indonésia, Polinésia ou lá o que é que é. As outras davam gargalhadinhas nervosas. A mulher devia ter uns quarenta e cinco anos e falava com entusiasmo do seu filho Leandro Miguel. Também tinha um piercing na língua. Usava as calças muito largas. Só queria roupa de marca. O boné custara-lhe quarenta e cinco euros. Os últimos ténis quase cento e vinte. Tinha dois brilhantes nas orelhas. Às vezes, para desenjoar, tirava os brilhantes e colocava umas argolas de ouro branco. Não era bom aluno. Isso, porém, não parecia preocupar a mãe. Que o filho fosse medíocre como ela própria era algo que parecia quase confortá-la. Por fim, em jeito de remate, para mostrar que era uma mãe modernaça, muito prá-frentex, que comungava dos interesses do filho, mostrou a tatuagem que fizera no tornozelo. Um golfinho saltando nas águas do mar. Uma beleza.
(Custa-me reconhecê-lo, mas o CDS tem muita razão naquilo que diz em relação à polémica da distribuição de preservativos. Compete às família, pobres, ricas, remediadas, e não à escola educar os filhos. Compete às famílias e não à escola assegurar que os miúdos tomam as precauções necessárias quando iniciam uma vida sexual activa. Compete às famílias explicar que o sexo não se inicia aos doze, nem aos treze, nem aos quinze anos e que quem o pratica corre riscos. Quem não quer educar os filhos, quem não está para os acompanhar, não os deve ter. Se o Leandro Miguel quiser foder, com o seu pénis tatuado, as feiosas todas do 10º ano da escola secundária da Arrentela que o faça. Se engravidar uma Bruna ou uma Micaela Cristina, cujo sonho secreto é participar numa novela da TVI ou ser capa da Maxmen, que engravide. Se apanhar uma doença infecto-contagiosa e morrer antes dos vinte e cinco é uma sorte para todos nós.)
(Custa-me reconhecê-lo, mas o CDS tem muita razão naquilo que diz em relação à polémica da distribuição de preservativos. Compete às família, pobres, ricas, remediadas, e não à escola educar os filhos. Compete às famílias e não à escola assegurar que os miúdos tomam as precauções necessárias quando iniciam uma vida sexual activa. Compete às famílias explicar que o sexo não se inicia aos doze, nem aos treze, nem aos quinze anos e que quem o pratica corre riscos. Quem não quer educar os filhos, quem não está para os acompanhar, não os deve ter. Se o Leandro Miguel quiser foder, com o seu pénis tatuado, as feiosas todas do 10º ano da escola secundária da Arrentela que o faça. Se engravidar uma Bruna ou uma Micaela Cristina, cujo sonho secreto é participar numa novela da TVI ou ser capa da Maxmen, que engravide. Se apanhar uma doença infecto-contagiosa e morrer antes dos vinte e cinco é uma sorte para todos nós.)
2009/05/19
Kuduro
Dispensaram a Laurinda Alves. Rejubilei. Acendi até duas velas a Nossa Senhora de Fátima. Substituíram, não sei se temporariamente, o Paulo Moura pelo Vitor Belanciano. Aquiesci. Hoje, topei com o Jorge Marmelo em vez do Desidério Murcho. Consolei-me. O primeiro, parece-me, é mais dado à vida mundana. A vida contemplativa que se lixe. Não compreendo a lógica das mudanças, mas, aproveitando a maré, peço a quem de direito que pondere substituir o Kalaf Ângelo, o negro do chapéu de coco, que escreve às quintas-feiras no P2. Era uma caridade que faziam a uma leitora fidelíssima. Os lugares comuns são em catadupa, as ideias previsíveis, banais, o deslumbre pela modernidade dos restaurantes japoneses e dos produtos biológicos constrangedor. A mim provoca-me arrepios, brotoeja, urticária, nascem-me aftas na língua, incham-me as mãos, enfurece-se o joanete do pé direito. O homem é chato. Terá, admito, habilidade para o kuduro, para alardear aos quatro ventos a beleza dos musseques e a fúria dos subúrbios, mas não tem a vocação da crónica escrita.
(Aviso já que deixo de comprar o Público se, neste corrupio de alterações, abrir o jornal à quarta-feira e lá não estiver o Paulo Varela Gomes. Exijo que a Índia continue a chegar-me, matinal, todas as quartas-feiras.)
(Aviso já que deixo de comprar o Público se, neste corrupio de alterações, abrir o jornal à quarta-feira e lá não estiver o Paulo Varela Gomes. Exijo que a Índia continue a chegar-me, matinal, todas as quartas-feiras.)
Menina-Balão
Na Índia, ao contrário de cá, os jornais não trazem mensagens eróticas. Shiva, sempre entretido em cabriolices eróticas com as suas consortes, de lingam erecto, não o permite. Em contrapartida, há em cada jornal uma longa secção de matrimonial. Trata-se, como o nome indica, de uma secção de anúncios de quem procura parceiro para casar. As mensagens são de uma especificidade impressionante. Nunca tinha visto nada igual. As brides e os grooms descrevem-se com rigor e exactidão. Num quadradinho de papel condensam a informação necessária para despertar o interesse de um potencial parceiro: idade, casta, religião, habilitações -desengane-se quem pensa que na Índia são todos uns desgraçadinhos analfabetos, na maior parte dos casos, principalmente nas cidades, o que está em causa é saber se se tem uma especialização ou um doutoramento -, região, profissão, salário e, claro, o tom da pele. Fiquei viciada na leitura daquela secção dos jornais indianos. Por isso, quando a tarde caía sobre a casa de Maina e os esquilos se escondiam nos ramos da mangueira, eu arrastava a cadeira de baloiço para a varanda e entretinha-me a ler os anúncios dos casamentos, tentando encontrar naquelas listas infindáveis correspondências que assegurassem aos noivos um casamento feliz para a vida. Um dia, a Ria, a menina-balão, veio sentar-se perto de mim. Espreitou o jornal e chamou, com a sua voz de trovão, as outras crianças da casa que, entretidas a chupar limas, correram para perto de nós. “Ana Clara is reading the matrimonial! She is looking for an indian groom!”. Ri-me do descaramento da menina-balão e belisquei-a. Depois, passámos o resto da tarde à procura de um noivo indiano para mim.
(Tenho saudades da Índia. Nunca mais chega o Natal para por fim voltar.)
2009/05/15
2009/05/13
Feira
Os debates quinzenais na Assembleia da República, que escuto pela tarde, na volta para casa, mostram que a casa da democracia, como alguns gostam de lhe chamar, mais parece uma feira. Tudo se permite. Há a vozearia habitual, o bruá dos deputados arregimentados, que batem palmas enquanto tuitam, os urros, os insultos gratuitos, as estocadas finais, o cinismo das interpelações. Nada se discute. Pouco se esclarece. Servem os debates para a oposição acicatar o Primeiro-Ministro e para este mostrar que a elegância dos seus fatos armani não joga com o acinte e com a arrogância das suas explicações. Os debates quinzenais servem para mostrar outra coisa. Que o tempo corre depressa. Espanto-me pela manhã quando percebo que é dia de debate na Assembleia da República. Ainda não estou refeita dos dislates do debate anterior e já outro se anuncia para alegrar o meu fim de tarde.
Marias
Escutei na rádio, entrevistada pelo Carlos Pinto Coelho, a Maria Teresa Horta falar da sua poesia solar e da sua ficção nocturna. Caracterizou a sua obra com a mesma naturalidade com que eu adjectivo os meus filhos. O João é folgazão, a Dádá é açucarada, o Joaquim é, por enquanto, incerto. Invejei-a apesar de nunca lhe ter lido nada. Deve ser bom ter uma poesia solar e uma ficção nocturna.
2009/05/11
Ferrugem
A boca ficou a saber-me a ferrugem, disse Laura enquanto se vestia. Depois abriu a janela e cuspiu. Olhou as árvores do quintal. A nespereira estava carregada de frutos podres e, perto do muro, um limoeiro oferecia-se a quem passava na rua. Laura puxou a saliva e cuspiu outra vez antes de fechar a janela. O silêncio espalhava-se pelo quarto, tão denso e baço que parecia poder cortar-se às fatias. Virou-se para o espelho e começou a escovar os cabelos. Tinha-os longos, muito lisos e brilhantes. Sabes, o sangue é que costuma saber a ferrugem, continuou sem esperar resposta. Por cima da cómoda um gato de loiça olhava-a com olhos moles de preguiça. Só ele parecia escutar as palavras de Laura. A mulher apanhou o cabelo e prendeu-o com um elástico. Tirou da mala um desodorizante. Isso geralmente sabe-me a ervas frescas esmagadas, disse enquanto vaporizava as axilas com um cheiro mentolado. Olhou em redor à procura dos sapatos. Descobriu um por baixo do reposteiro e outro aninhado por baixo da cama, entre sacos de plásticos e bolas de cotão. Calçou-se. Os pés denunciavam-na sempre. Mais do que a voz ou a forma quadrangular do tronco. Por mais que pintasse as unhas, por mais que amaciasse a pele com cremes e óleos, tinha pés ossudos, pés de homem. O professor do 4º direito, para a arreliar, quando a ouvia queixar-se da masculinidade de tais membros, dizia-lhe que ela tinha pés de deus grego, pés de Hércules, de Jasão, de argonauta, de Ulisses, uns pés iguaizinhos aos de Cristo na cruz. Ria-se o professor e quando ria abria muito a boca e mostrava a glote que tinha a forma perfeita de um sino. Laura não achava graça. Se pudesse entraparia os pés como as chinesinhas de antigamente. Ainda por cima calçava o quarenta e quatro. Era uma chatice para arranjar sandálias de salto alto.
(Julho de 2007)
2009/05/07
Testosterona
Cheguei a uma conclusão: a Ler é uma revista feita por homens, sobre homens e para homens. Poucas são as mulheres que colaboram com a revista: a Felipa Melo, a Inês Pedrosa, a Carla Maia de Almeida que, como convém, escreve sobre livros de criancinhas. Desde que renasceu apenas duas mulheres mereceram a capa da Ler. A Margarida Rebelo Pinto e a Agustina Bessa Luís. A gente percebe, através destas escolhas, que há, em quem faz a Ler, uma certa imagem do que são as mulheres e do que é a escrita no feminino. Olha-se, por exemplo, para a capa do número de Maio e descobrimos, entre escritores, bons, maus e muito maus, cronistas e afins, o José Eduardo Agualusa (que é lindo, absolutamente lindo), o Siza Vieira, o Rui Ramos, o Carmac McCarthy, o Henrique Raposo, o Domingos Amaral, o Pedro Mexia, o Rogério Casanova, o Eduardo Pitta, o Abel Barros Baptista, o Filipe Nunes Vicente, um tal de John Cheerver, o António Câmara, o Mário de Carvalho, o senhor provedor, o Fernando Sobral. Há apenas uma mulher no meio de tanta testoterona, de tamanha confusão de testículos, escrotos e prepúcios: a Teresa Caeiro. E mais não digo.
(entretanto, e isso é que importa, o Álvaro chegou.)
(entretanto, e isso é que importa, o Álvaro chegou.)
2009/05/04
Castanheiro das Índias
Ando cansada para escrever. E triste. Uma tristeza miudinha percorre-me o corpo. Conheço-a de outras guerras. Procura, como sempre acontece, entrar pelos poros da minha pele para depois se instalar cá dentro. Quando a tristeza se entranha nas vísceras pouco há a fazer. Geralmente espero que se sacie e me abandone. Não fosse o cansaço e a tristeza e escreveria hoje sobre um homem que conhece os nomes das árvores e dos peixes.
Eva
Entra uma rapariga na carruagem. Olho-a. Tem umas sandálias calçadas, tipo colibri, de plástico bege, daquelas baratas que se compram no Paraíso do Calçado e cheiram a cholé quando se descalçam. Morena, com umas covas nos olhos e a sombra do buço a marcar-lhe o rosto, a rapariga não terá mais de vinte anos. O cabelo é enorme, escuro, exageradamente comprido. Deve chegar-lhe ao rabo. Faz lembrar uma Eva ignota. Vê-se que tem orgulho no seu cabelo. Não pára de lhe mexer. Faz nós nas pontas. Pouco depois, desmancha-os para logo de seguida fazer outros. Quando se cansa dos nós, começa a enrolar o cabelo em volta do pescoço. Como se fosse um lenço. Ou um colar. Ou uma corda para se enforcar. Ou uma serpente de língua bífida que, sibilante, lhe oferece uma maçã. Por fim, deixa de brincar com o cabelo e arremessa-o para trás das costas. Olha em redor e dá um estalido com a pastilha elástica que mastiga. Tem noção de que o seu cabelo dá nas vistas e isso alegra-a. O que a rapariga não percebe é que é a feiura do seu cabelo-serpente que prende o olhar de quem com ela se cruza. É um cabelo baço, sem brilho, sem volume, com uma ondulação incipiente. Tenho pena da Eva que masca pastilha elástica na carruagem do metro que vai para Odivelas. Se tivesse uma tesoura à mão cortava-lhe o cabelo, tornava-a banal, livrava-a dos olhares alheios.
(Novembro 2007)
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