Na livraria, à hora de almoço, peguei num livro da Ana Teresa Pereira. Fartei-me de rir. Lá estava o seu universo habitual: o Ticiano, o Mahler, o Calvin Klein, o Marlon Brando, a National Gallery. Dizem os entendidos, críticos literários e perecíveis sucedâneos, que a Ana Teresa Pereira é boa escritora. Eles hão-de saber do assunto. Eu cá não a suporto. Também detestei, mas é que detestei mesmo, o Myra da Maria Velho da Costa. Levei-o de companhia para um julgamento em Monção que, feito em duas sessões, me obrigou a pernoitar no hotel das termas. Sozinha no quarto, chovia tanto lá fora, deitada com a Maria Velho da Costa. Não aguentei dois minutos a companhia, fui fumar para a janela e, mal me deitei, pus-me a pensar numa pessoa que eu cá sei e enfiei um dedo na vagina para afugentar a irritação. Os entendidos dizem que a Maria Velho da Costa também é muito boa escritora. Está visto que não percebo nada de literatura. Nadinha. E comprei, lá por Monção, numa boutique jeitosa que ficava ao lado de uma loja de plásticos, um vestido justo com padrão de pele de crocodilo. O vestido é giro que se farta e realça a minha latinidade. Cada vez que o visto, porém, lembro-me do camiseiro da tigresa prima, dona do Cesariny, tanto que a gozei, e afundo-me na minha idiossincrasia.