2007/06/08

Massamá (2)

Quando assim a ouvia falar, ficava com vontade de me vestir de ninja e assaltar a casa de Massamá para salvar os livros da tirania de tanta parolice e delicadeza. Agora é juíza. Usa uma beca cheia de cordões e pregas. Decide sobre a vida dos outros. Anda inchada como a rã da fábula. Qualquer dia rebenta. Ao contrário do que a minha ranídea (aquele que apresenta qualidades ou atributos da rã?) colega imaginava, os livros não se devem colocar num pedestal. Devem tratar-se como objectos que são. Às vezes, com amor. Outras, com raiva. Por exemplo, sempre que dou de caras com um exemplar do “Amor em Tempos de Cólera”, lembro-me da minha irmã, a espumar da boca, tal qual cadela raivosa, daquelas possantes e babosas, a pegar no meu “Amor em Tempos de Cólera” e a rasgar-lhe as páginas. Completamente tresloucada só porque eu, já nem sei porquê, lhe rasgara a capa do monótono “Germinal”. A verdade é que sempre que oiço falar do “Amor em Tempos de Cólera”, ou de qualquer outro livro do GGM, volto atrás, ao tempo em que éramos duas adolescentes feias que discutiam, com ódio e fúria, por tudo e por nada, e dou de caras com o amor que lhe tenho.