2007/06/27

Mexilhões

Passei a noite sentada no bidé, com a cabeça enfiada na sanita, a vomitar. Desconfio que foi por causa de uns certos mexilhões que comi ao jantar. Nunca mais na vida toco em mexilhões. Fiquei exausta. Cada vez que um vómito se assomava à garganta, o meu corpo sacolejava. Parecia que as entranhas, as vísceras, as miudezas me queriam fugir pela boca. Quando deixou de ter comida para botar fora, o meu corpo começou a tentar arrancar pedaços esponjosos do seu avesso para se aliviar. Eu a assistir a tudo, incapaz de dominar o meu corpo, de lhe dar um par de tabefes para que sossegasse. Pela madrugada, os vómitos tornaram-se mais espaçados, mais dolorosos. O cheiro azedo misturando-se com os cheiros aprisionados dos champôs, dos detergentes, do sabonete, da pasta de dentes, do colutório dos miúdos, provocou-me nova náusea, desta vez acompanhada de uma ligeira quebra de tensão. Cai ao chão. Deixei-me ficar. E gemi uma infinidade de ais.