A noite entrava na hora da solidão. A casa dormia como um bicho manso. Pelas janelas abertas entravam os primeiros mosquitos da estação. Eu entristecia, deitada no sofá, com o comando na mão. Ele veio sem o esperar. Fez-me companhia durante uma hora. Não mais. Explicou-me o mundo de lá e de cá. Riu-se da cimitarra que utilizo para decepar a minha cabeça, os meus braços, as minhas pernas, às vezes, poucas vezes, só as falanges, as falanginhas ou as falangetas. Eu vi-lhe os dentes brancos e achei-o bonito. Perguntei-lhe se o podia abraçar. Ele fechou o cenho como que a dizer tenha juízo menina, não seja parva. Depois foi ter com as mulheres que respeita, aquelas que o seu banco ajuda a comprar uma vaca, uma máquina de costura, um tear, mulheres que amaciam os filhos com mãos crespas de trabalho.