2011/03/02

Honra

Na Alemanha, karl-Theodor zu Guttenberg – o jovem ministro da Defesa, dado como provável sucessor de Ângela Merkel por ser um político talentoso - demitiu-se. Foi acusado de plagiar uma tese de doutoramento. É um comportamento censurável, mas poucochinho. Vivemos numa época em que a informação circula veloz; é de toda a gente e não é de ninguém. Toda a gente plagia. Em França, a Ministra dos Negócios Estrangeiros, Michèle Alliot-Marie, também apresentou a sua carta de demissão. Cometeu o crime hediondo de ter estado de férias na Tunísia durante os protestos populares. Consta, por outro lado, que a sua família (os pais, não ela) tem negócios com governantes magrebinos. Mais uma vez, é um comportamento censurável, mas pouco. Em Portugal, o primeiro-ministro, ao longo desta penosa travessia que tem sido o seu último governo, foi acusado de coisas bem piores – burla, caciquismo puro e duro, clientelismo, falsidade - e nada se passou. É que, em Portugal, ao contrário do que sucede nos países do norte da Europa, não existe responsabilidade política. Os cidadãos não se importam de viver numa democracia meramente formal. Existe, isso sim, para conveniência de quem a invoca, uma coisa que se chama responsabilidade criminal. Em Portugal, os políticos podem prevaricar, podem passar à frente dos velhinhos nos centros de saúde, podem ser desonestos, amorais, podem ser totalmente inaptos para desempenhar os cargos para os quais foram eleitos, podem prescindir com descaramento da ética pública, podem ser, no fundo, uns autênticos filhos da puta, porque sabem que, no final, a justiça cumprirá o seu papel e, sob o manto respeitável do despacho de arquivamento, apagará desonras, limpando chagas e feridas.