2011/03/18

Jardim de São Lázaro

Atravesso o jardim de são lázaro e sinto o olhar dos velhos que jogam às cartas pousado em mim. Há uma japoneira florida e vários estudantes da escola de belas artes desenham à vista perto do coreto. Têm cabelos despenteados, barbas ralas, vestem com descuido. Nenhum deles levanta os olhos do papel para me olhar. Sou velha e invisível para os estudantes da escola de belas artes. Só os idosos largam a sueca para me ver atravessar o jardim. Levo o corpo firme, o vestido justo, o cabelo caído pelas costas. Tenho pressa de chegar à estação para apanhar o comboio que parte para Lisboa. O olhar dos velhos, devasso, atrevido, faz-me desacelerar a passada, caminhar mais devagar, prolongar o momento. Sou nova, desejável, para eles. Os velhos do jardim de são lázaro gostam de me olhar e eu gosto que eles me olhem.