2011/05/26

Arma

Vesti um vestido branco, justo, de bom corte, e calcei umas sandálias de salto alto. No comboio, na rua, nos corredores do edifício, no tribunal, no portão da escola, senti olhares pousados em mim. Uma morena vestida de branco dá sempre nas vistas. Um advogado, magrinho, olhos aguados, cabelo ralo, de palavra fácil, apresentou-se com um galanteio. É um prazer trabalhar com uma colega tão bonita, explicou e sentou-se ao meu lado. Durante o julgamento deixei a toga aberta para que pudesse apreciar uma nesga das minhas pernas cruzadas. No final, quando despi a toga, senti que os quarenta aprendizes de polícia que assistiam ao julgamento me olharam como fêmea. O juiz foi cortês na despedida e, pareceu-me, se pudesse, teria lambido o meu braço. Acabei o dia, enfiada num pijama puído, a fumar no estendal, com a certeza de que não há nada melhor do que nos quererem pelo nosso corpo. O corpo é uma arma.