2011/05/30

Medíocre

Pela manhã, a caminho de Almada, a chuva caindo sobre o rio, a cidade melancólica ficando para trás, pus-me a pensar nas razões pelas quais gostava de tentar escrever um livro. Não foi preciso muito tempo para perceber a razão principal: quero escrever apenas para impressionar o meu pai e os meus filhos. Aos olhos do meu pai, que me ama, sou medíocre. Sou uma promessa que nunca se cumpriu. Um desperdício de vida. Sucumbi à rotina dos dias e serei incapaz de deixar uma marca. Aos olhos dos meus filhos, sou o oposto. Cada um deles, para além do amor que sempre se tem a uma mãe, tem por mim uma admiração que me assusta. Quero escrever para que o meu pai deixe de me considerar medíocre. Quero escrever para que os meus filhos nunca comecem a achar-me medíocre.