2009/06/15

Mousavi (1)

Chamam-lhe reformista. E moderado. Durante a campanha fez-se acompanhar pela mulher, uma politóloga de olhos carregados e lenço de ramagens na cabeça. Reivindicou o direito das mulheres. Preocupou-se com a condição feminina. Reclamou o fim da humilhante discriminação a que são sujeitas. Apontou o dedo aos péssimos resultados económicos alcançados pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad. Afirmou querer trabalhar na construção de um clima de confiança internacional. Explicou a natureza pacífica das ambições nucleares iranianas. Também defendeu a imprensa livre. Com brandura, porém, já que nunca prometeu liberdade para os prisioneiros políticos. As mulheres, os estudantes, os habitantes das grandes cidades apoiaram-no abertamente, reclamando a reforma do regime teocrático dos aiatolás. Depois das eleições, apontou irregularidades eleitorais, reclamou a vitória com 65% dos votos. É arquitecto e pintor. O que tem a sua importância. Há sempre quem se deixe fascinar pelos artistas, poetas e intelectuais. Mesmo quando são uns estupores. Tem também boa figura, é bem apessoado, faz lembrar o Siza Vieira. Fisicamente supera, em muito, o Ahmadinejad, pequenote, quezilento, com cara de mau. São, pois, muitos os motivos que tornam Hossein Mousavi numa espécie de super-herói, merecedor da admiração de todos por ser o rosto visível da oposição no Irão. Há quem compare as represálias que entretanto ocorrem nas ruas de Teerão, com espancamentos e prisões, aos massacres que ocorreram na praça de Tianamen em 1989. Mousavi tem a imprensa ocidental, os comentadores, o mundo livre e esclarecido do seu lado. Ainda hoje, o sempre atento Rui Tavares descreve-o assim “Mousavi, um homem educado que já foi primeiro-ministro e se dedica à pintura e arquitectura, representava a Pérsia que deseja se respeitada e detesta ser conhecida pelos piores motivos”. Palavras para quê? Melhor apresentação é impossível.