2009/06/15

Mousavi (2)

Ouvindo os comentadores, lendo os jornais, vendo as imagens dessas jovens iranianas envoltas em lenços verdes, exercendo o seu direito de voto, reclamando a sua liberdade, é quase impossível não sentirmos também nós uma simpatia profunda por Mousavi. Porém, tenho dúvidas que seja merecedor de tamanho aplauso. É que ninguém fala dos telhados de vidro do novo messias da liberdade. E, surpreendentemente, parece que tem muitos. Dois anos depois da revolução, foi nomeado primeiro-ministro por Khomeini. Foi responsável, como presidente do Conselho da Revolução Cultural, pelo fecho de universidades, por uma revisão constitucional que permitiu a concentração de todos os poderes no líder supremo. Na época, conduziu uma política económica estatizante com declarada inspiração soviética. Foi responsável pela perseguição e morte de muitos presos políticos. Consta que apoiou a fatwa de Khomeini contra Salman Rushdie. No ano de 1988, quando ainda era primeiro-ministro, foram ordenadas execuções maciças de milhares de opositores do regime. Foram enterrados em valas comuns e convenientemente esquecidos pelo Irão e pela comunidade internacional. Não se sabe o número exacto de quantos iranianos morreram no Verão de 1988. A Amnistia Internacional aponta entre 4000 e 5000 mortos. Há quem assegure que nesse Verão sangrento 30 000 iranianos morreram.

Mousavi não é um democrata. Ao contrário do que parece. É certo que, nos últimos tempos, mudou de lado. Hoje defende uma economia de mercado e mais liberdade. Porém, bem vistas as coisas, só pode ser considerado moderado e reformista quando comparado com o ultraconservador Ahmadinejad. O que faz toda a diferença. Eu também posso ser considerada um torpedo de mulher se me compararem com a Susan Boyle. Isso não faz de mim propriamente uma beleza. O mesmo se passa com Mousavi. A sua moderação, o seu alardeado reformismo, têm muito que se lhe diga. Aliás, por alguma razão, a sua candidatura foi uma das aprovadas pelo Conselho dos Guardiães. A verdade é que Mousavi traz as mãos muito manchadas de sangue. Estranho é que ninguém fale disso.