As pessoas vivem amorfas e tristes por serem incapazes de questionar as três relações importantes das suas vidas. A relação com a morte. A relação com os filhos. A relação com a sexualidade. Mas coisa, menos coisa, foi isto que ele disse. Quanto ouvi tal panaceia, estremeci. É que eu questiono tais relações e nem por isso sou mais feliz. Quando o faço percebo que falho em todas elas. Falho na relação com a morte por cobardia e intermitência. Falho na relação com os filhos por excesso. Falho na relação com a sexualidade por tudo. E também dá-se amiúde aos velhinhos sem saúde e às viúvas sem porvir… Quem assim sabiamente falou foi o Eduardo Sá, o homem da voz feita de coisinhas boas, que, ao final da tarde, vira os dias do avesso com a Isabel Stillwel na Antena 1. Uma outra vez, já há algum tempo, dei por eles a discorrer sobre sexo e prazer. Segundo o Eduardo Sá, só há prazer, verdadeiro prazer, quando, numa relação de total confiança e comunhão, se penetra da superfície da pele ao fundo da alma. Desliguei o rádio e deixei-me ficar em silêncio a roer as unhas até o sabugo rebentar. Depois corri à cozinha em busca der uma faca de serrilha, suficientemente afiada e dolorosa, para cortar os pulsos. Escorreu sangue por todo o lado. Vi-me aflita para limpar as nódoas do tapete que está por baixo do lava-loiças.