2008/02/24

Il faut savoir

Depois de jantar, deixámo-nos ficar à mesa a beber uma garrafa de vinho tinto e a fumaçar os gauloises do Manuel. Ela colocou o Charles Aznavour no leitor de cds. Obriguei-a a repetir vezes sem conta o “Il faut savoir”. Quando o Manuel chegou, enfiado no anorak de forro xadrez, que conheço dos tempos em que ele era apenas meu patrono, sorriu. Disse qualquer coisa do tipo “as manas já estão alegrotas!”. Estávamos. A alegria da minha irmã deu-lhe para dizer, com ar pateta, que adorava o Sr. Frazão, colega de trabalho. A minha alegria deu-me para falar de sexo anal com o meu cunhado enquanto ele comia fatias de pão besuntadas de um queijo amanteigado. Gosto do Manuel. E eu nem sou muito de gostar de pessoas. Desprezo, genuína e autenticamente, quase toda a gente a conheço. O Manuel é a única pessoa que conheço que é capaz de falar, com interesse, sem dissimulação ou pedantismo, com qualquer pessoa e sobre qualquer assunto. Não há muita gente assim. Tanto fala sobre as guerras púnicas e a Anna Magnani como fala sobre futebol e técnicas de masturbação.

(Ainda bem que não fui ao concerto. Estava lá o Herman José com uma camisa cheia de tachas douradas.)