2009/07/15

Ana

Embirro solenemente com a mãe adolescente que reclama o seu filho Martim. É um sentimento que, de início, não fui capaz de perceber. Desconfio que a toleraria se ela fosse uma tolinha, incapaz de um discurso articulado e racional, uma pobre coitada cheia de lágrimas gordas nos olhos inchados, as mãos no peito, um português de frases mal amanhadas saindo-lhe da boca. Sou muito boa a derramar comiseração pelos pobres de espírito. O que nela me enerva, percebo agora, é a desenvoltura, a determinação, a lucidez e a coragem. Custa-me olhar para aquela miúda, que vem de um passado dorido, e reconhecer que há nela a força necessária para tomar as rédeas da sua vida e ser feliz.