2009/07/16

Guardiães

Só há uma coisa mais deprimente do que publicar em livro as crónicas que se escrevem em revistas e jornais. É publicar em livro os textos que se escrevem em blogues. Os livros, entre outras coisas, passaram a ser guardiães da filosofia de pacotilha, da merdologia em geral, da análise gajológica do mundo, sapatos e namorados, namorados e sapatos, do escalpe frenético e detalhado de cada notícia, da opinião efémera, perecível, descartável. Tudo devidamente impresso em folhas de boa qualidade, com uma capa catita e uma cinta com uma frase de efeito. As pessoas que compram colectâneas de crónicas e afins fazem-no porque, em regra, apreciam os autores. Porém, quando chegam a casa, arrumam o livro num lugar esconso da estante e nunca mais lhe tocam. Ninguém, mas mesmo ninguém, lê colectâneas de crónicas e de posts. Felizmente. As crónicas devem ler-se nos jornais. Os posts nos blogues. Os livros deviam servir para outra coisa qualquer.