A revista Playboy traz este mês na capa uma rapariga loira, muito desenxabida, com um ar tristonho e encolhido. A rapariga loira olha-nos sem sedução ou provocação. Observa-nos de frente e, com um gesto forçado, tapa as maminhas com o braço. Levanta o outro braço a querer imitar, sem sucesso, a pose típica das pin-ups americanas. Usa uma maquilhagem discreta, o cabelo está penteado com volume, mas cai-lhe sem graça. Esboça um sorriso amarelo de quem não se sente bem naquela pele. A Playboy portuguesa, ao quarto número, demonstrou que não vale a ponta de um corno. Alguém devia explicar a quem lá manda que é suposto a gente olhar a capa da Playboy, pendurada nos quiosques e nos escaparates das tabacarias, e sentir uma vertigem pequenina de prazer, uma mornidão no corpo, o enrubescimento do rosto. A rapariga loira da capa deste mês (chama-se Rita Mendes) dá pena. Olho-a e fico com vontade de ir aprender a confeccionar pastéis de bacalhau com a Maria de Lurdes Modesto. Sempre é mais excitante. A Ana Malhoa, cuja capa do mês anterior foi tão criticada, pelo menos, tem uma aura assumidamente pornográfica, apela ao sexo óbvio, carnal, porcalhão, onde tudo se lambe e engole. A tal Rita, pobrezinha, não apela a nada.