Já se esperava que a esquerda tratasse a tal proposta de revisão constitucional do PSD Madeira com o desprezo habitual. A esquerda é esclarecida e não perde tempo com minudências. Por exemplo, na televisão, a Ana Drago explicou que, por uma questão de higiene, estabeleceu para si a regra de nunca comentar os dislates do Dr. Jardim. A Clara Ferreira Alves foi pelo mesmo caminho. Mexeu na madeixa loira, encolheu os ombros e tratou o assunto com nojo. Depois faiscou os olhos azuis e fez um ar bestialmente inteligente e culto. Talvez estivesse a pensar escrever outra crónica sobre os croissants que se comem nos cafés dos bairros típicos de Paris.
O que se estranha é que também a direita, em geral, se tenha demarcado do Alberto João Jardim. E, no entanto, ele trouxe para a discussão pública uma questão interessante. É insustentável que uma constituição democrática, nascida da liberdade, assente na liberdade, proíba determinada ideologia por esta colocar em risco a sua essência. Se, decorridos trinta anos sobre o 25 de Abril, o texto constitucional opta por continuar a proibir ideologias deve fazê-lo com isenção, excluindo todas as ideologias totalitárias, as de direita e as de esquerda. É o que se espera de uma constituição democrática e viva.
Os comentadores de direita, porém, têm horror a ser confundidos com o Dr. Jardim, que é trauliteiro, boçal e bebe poncha. Eles, os comentadores de direita, são polidos. São de direita mas, em rigor, podiam ser de esquerda. Utilizam expressões como “boutades”. Escutam o Leonard Cohen. No fundo, no fundo, também gostam de comer croissants sentados nas mesas minúsculas dos cafés dos bairros típicos de Paris. Em relação ao presidente do governo regional da Madeira fazem sempre o mesmo. Começam por esclarecer-nos que não concordam com o que o dito disse. Distanciam-se. Demarcam-se. Depois, quando nos explicam a sua opinião sobre o assunto, seja ele qual for, dão-lhe quase sempre razão. É um bocadinho ridículo.