2006/12/05

Rosa Maria (2)

Ora, hoje de manhã, fui beber um galão e comer um papo-seco ali a um café antes de ir trabalhar. Cheguei à esquina devia ser cinco horas. Adivinhe quem já estava? A Rosa Maria! Só que estava diferente. Os beiços pintados de vermelho, vermelho, vermelho! As unhas, muito ratadas, mas pintadas também. Tinha uma roupinha diferente. Sei lá onde a foi desencantar! Nalguma loja chinesa ou na feira da ladra. Estava encostada à minha esquina, com a mala a tiracolo, e sorria a quem passava. Quando sorria mostrava os dentes. Foi então que percebi que a Rosa Maria tinha uma dentadura. Ó senhor doutor, eu olhei para ela, a mostrar os dentes novos, pronta para o engate, e nem sabia se havia de rir ou chorar! Eu, muito calminha, muito calminha, perguntei-lhe ó Maria Gertrudes, pá, olha que estás na minha esquina! Ela olhou para o relógio e disse que tinha chegado primeiro. Eu calei-me e pus-me a falar para dentro, a dizer, tem calma Maria Alice, tem calma, que a gaja é velha e já andou muitos anos na vida e tu mais dia, menos dia, vais ser igual a ela, uma puta velha. Foi então que a Rosa Maria começou a falar, a dizer que já não se faziam mulheres como dantes, que nós éramos todas umas drógadas, que andávamos a dormir com os homens e a espalhar doenças por toda a parte. Comecei a chatear-me porque há muita desgraçada com o vício nesta vida, mas não é o meu caso, senhor doutor, que nunca meti nada dentro do corpo e tenho dois filhos para criar! Olhe, mas ela não se calava, uma conversa sem pés nem cabeça!