Acontece que a bibliófila em questão falava, no seu blog, de um livro que li há pouco tempo. Ainda está em cima da mesa-de-cabeceira e vou ter dificuldade em devolvê-lo ao seu legítimo proprietário. Quem me conhece sabe que leio compulsiva. Por prazer. Por isso, me enervou a conversa da bibliófila. Eu amo os livros (assumo, neste caso, a parolice do emprego do verbo amar). Tenho por eles um amor táctil como diz a canção do Caetano Veloso. Mas também os odeio e desprezo e pretiro. Os livros são capazes de me pôr doente, triste, angustiada, irritada. Outras vezes, feliz. Porém, apesar da importância que têm na minha vida, jamais me passaria pela cabeça chamar-me, considerar-me bibliófila. Quem se assume como bibliófila como se assumisse um título ou uma comenda é tonto, palerma, acéfalo. É conversa de quem não percebe nada de livros. Um livro é mais do que um objecto que se lê e comenta. Os livros não servem para ser escalpelizados em teorias e críticas (essa tarefa compete apenas aos académicos, coitados, que se entopem em recensões, análises, comparações). Muito menos servem os livros para a gente se pavonear, em alaridos despropositados, com meia dúzia de linhas mal escritas na blogosfera. O que a tal bibliófila não sabe, nem percebe, é que, quando um livro nos toca, não se compartilha sequer.