Preciso de descansar, pensou a mulher. Depois, deixou-se cair. Não pensou em nada. Não pensou em ninguém. Porventura, naquele exacto momento, ninguém estaria a pensar nela. Havia assim uma justa reciprocidade na ausência de lembrança. O corpo desenhou uma espiral ao cair. Como se fosse uma pena ou uma folha. Não caiu a pique. Nem com a rapidez própria dos corpos que têm determinado peso. A mulher era velha, de estatura pequena, muito leve. Leve como uma pena. Demorou exactamente cinco segundos a chegar cá baixo. É muito tempo para um corpo. Caiu em cima de um carro estacionado à porta de uma pastelaria. Um carro refulgente de modernidade, preto, descapotável.