2006/09/18

À janela (1)

Espreito pelos vidros da janela da sala. Estão sujos, cheios de dedadas, de marcas de mãos pequenas e gordurosas. Ainda não aprenderam que devem lavar as mãos depois das refeições. Lá fora, está escuro. Não vejo pessoas. Apenas carros. No prédio em frente, um casal novo movimenta-se numa divisão pequena. Deve ser a cozinha. Ela parece estar a lavar loiça. Ele saltita à sua volta. Assemelha-se a um gafanhoto verde-seco e pequeno, igual aos que me saltavam para as pernas quando, menina, mergulhava tardes inteiras nas searas que ficavam atrás da casa dos meus avós. Como a maior parte dos seus pares, o homem-gafanhoto do prédio em frente deve ser um incompetente, um inapto para o desempenho das tarefas domésticas. Regra geral, há que reconhecê-lo, os homens são incompetentes. Em tudo. Ou quase tudo. Até nas coisas mais simples, como, por exemplo, limpar uma cozinha.