2006/09/18

À janela (2)

Um homem é capaz de limpar uma cozinha sem sujar, sem molhar as mãos, o que, convenhamos, não é fácil. Pura e simplesmente, não toca nessa coisa mole, nojenta, geralmente de cor amarela, de consistência duvidosa que é o esfregão da cozinha. Limpa as bancadas com o rolo de papel ou, em alternativa, com guardanapos. O pano de limpar a loiça serve para tudo. Ás vezes até serve para limpar o chão. Se, por algum azar, alguma coisa cai no chão, não hesita em colocar estrategicamente o tapete em cima da mancha em vez de ir buscar o balde e a esfregona. Depois, gosta de enfiar toda a loiça que encontra dentro da máquina de lavar. Aquela que não consegue enfiar dentro da máquina, geralmente tachos e panelas, fica estrategicamente em cima da bancada, com um bocadinho de água no fundo. "É para amolecer", justifica-se. No final, é ela, a mulher, que acaba por lavar os tachos e as panelas. Quando termina a sua herculea tarefa, o homem faz um ar de satisfação, quase de imbecil, de quem fez um enorme favor à pobre mulher. É que a obrigação não era dele, não senhor, era dela. Ele, ser magnânimo, qual monarca absoluto, dignou-se apenas a ajudá-la naquela tarefa. Como quem dá uma esmola. No fundo, bem lá no fundo, acha que a mesma não se adequa à sua masculinidade, ao facto de ter um pénis no meio das pernas.