2006/09/18

À janela (3)

O pior é que, quando um homem acaba de limpar uma cozinha, esta parece estar limpa, mas, na verdade, não está. É uma ilusão. Continua suja. Sujíssima. Conspurcada. As bancadas estão cheias gordura e de migalhas. Há manchas de sujidade por baixo do tapete. Não tocou sequer no fogão. Está tudo fora do sítio. Desordenado. O chão não foi varrido, muito menos lavado. É por estas e por outras, pela inabilidade total para fazerem coisas simples, que os homens não se comparam às mulheres. As mulheres fazem tudo o que, até há pouco tempo, estava reservado aos homens. Trabalham, ganham dinheiro, têm carreiras. Depois, quando chegam a casa, fazem aquilo que se lhes continua a exigir: tomar conta da casa, orientar a empregada se a tiver, arrumar, limpar, esfregar, cuidar dos filhos, educar os filhos, vestir os filhos, fazer as compras, fazer o jantar, fazer máquinas de roupa, estender a roupa, preparar os almoços da escola, passar a ferro. Eu sei que alguns homens vão ajudando nestas tarefas. Mas o facto de se limitarem a ajudar, de não assumirem essas tarefas como suas, só demonstra a sua menoridade. Um homem pode ajudar a mulher a limpar a cozinha, mas não lava o chão, não arruma armários, não arruma a despensa; um homem pode ajudar um filho com os trabalhos de casa, mas não sabe que roupa ainda lhe serve, se é preciso comprar-lhe cuecas ou camisolas interiores. Os homens são o que são. Servem para o que servem. Para pouco mais. São uma espécie em vias de extinção. Acabarão por ser eliminados. Como os dinossauros. Mais cedo ou mais tarde, tornar-se-ão dispensáveis, descartáveis. Mesmo para o coito, se hão-de arranjar alternativas.