No rádio do carro, enquanto fixo as olheiras no espelho retrovisor, ouço um excerto de uma conversa qualquer entre o Eduardo Lourenço e o Pedro Mexia. Falam de literatura, do Vitorino Nemésio, do Camilo e do Eça. O Pedro Mexia é um chato armado em não chato, penso, enquanto ele afirma, assertivo, que o Camilo é maior do que o Eça. Não aguento ouvi-lo. Não teve sorte nenhuma com a voz que Deus lhe deu. É uma voz aborrecida que cicia bolores e outras coisas húmidas. Desligo o rádio e saio para a estação apesar do meu comboio, o que vem de Castanheira do Ribatejo, ainda tardar. Fico sem perceber porque é o Camilo maior que o Eça. Não faz mal. Há tantas coisas que eu não percebo.