2006/11/20

Maria José

A catequista do João chama-se Maria José. É um nome insuportavelmente óbvio para uma catequista. Podia chamar-se Salomé, Betsabé, Rute, qualquer coisa assim. Deslavada, usa o cabelo pegado à cabeça e tem sempre, como é próprio da sua idade, meia dúzia de borbulhas a sarapintar-lhe o rosto. Cada vez que me fala perscruta em mim uma pecadora, uma ímpia, uma descrente. Fala-me com calma, cerrando os olhos lentamente, num langor de piedade que me agonia. Coitada da Maria José, tão cheia de fé, tão paciente, solícita, instruindo as criaturinhas pequenas para a primeira comunhão, ensinando-lhes o perdão, o pai-nosso, as aves-marias, a confissão, o arrependimento. Coitada de mim que fico com vontade de a vergastar, insultar, ofender para a fazer perder a postura seráfica de virgem num altar.