Maria Eugénia tamborila com os dedos no tampo marmóreo da mesa. A sala está mal iluminada e uma humidade branda transpira das paredes. Aqui e ali topam-se manchas pequenas de bolor. Terá perto dos sessenta anos. Uma camisa clara mostra um colo branco e macio enfeitado com colar de pérolas que usa rente ao pescoço. Tem as mãos arranjadas e as unhas pintadas de um rosa esmaecido, muito claro, que faz lembrar coisas antigas. O seu porte mostra uma austeridade própria de quem tem tudo. Só os ricos se podem dar ao luxo de ser austeros. É sabido. Maria Eugénia aguarda não sabe muito bem o quê ou quem. Alisa o pregueado da saia com as mãos. Sente a maciez do tecido, uma lã cinzenta, com arabescos de flor-de-lis, que o marido lhe trouxe de uma das suas últimas viagens a Itália. Ao princípio, quando se casaram, o marido desdenhara-lhe o hábito da costura. Como mulher de um advogado, queria vê-la vestida nas lojas do chiado, chique como as mulheres dos seus colegas e sócios. Comprava-lhe vestidos, saias, casaquinhos. Para o agradar Maria Eugénia guardava os presentes no roupeiro e ocasionalmente soltava um É lindo, Alberto! Porém, a primeira vez que usara uma saia oferecida pelo marido, sentira-se estranha como se aquela não fosse a sua pele. Quando chegaram a casa tinha as pernas feridas como se tivesse sofrido leves queimaduras.