Para cumprir uma obrigação familiar, um destes dias fui a um jantar de aniversário de uma prima por afinidade que vive no meio da cidade, num apartamento de luxo. A aniversariante, que tem umas mamas grandes e uma peida apetecível (é o que dizem, que eu de peidas percebo pouco), usava uns sapatos de verniz pretos, com saltos muito altos, e uma camisa de seda a imitar pele de tigre. É simpática, a prima. Aliás, é uma daquelas pessoas em quem a gente pensa e diz fulana é simpática e não lhe ocorre mais nada. Mas sabe fazer-se de senhora crescida. Sabe dar ordens à empregada, uma ucraniana, de pele muito clara e olhos frios. Sabe servir entradas, pratos cheios de gambas, nozes, lagosta, sobremesas requintadas, estrangeiras, naturalmente, que o que é nacional é mau, comezinho, deve evitar-se a todo o custo. No final, agradeceu a prima aos convidados com uma taça champanhe francês, aquele conhecido, Moet et Chandon ou lá como é que é. Fez um discurso emocionado. Bati palmas. Os amigos da prima também. Eles de camisa azul e calças de sarja creme vincadas, elas de vestido de alças, sandálias de cunha, beberricando champanhe e sacudindo madeixas loiras, afectadas, falando nasaladamente, metendo ditongos em palavras que os não têm.