“Quero trocar de corpo”, digo à imagem que o espelho reflecte. “Este não me serve. Está morto. Estou farta de velar o meu clítoris e a minha vagina." A imagem olha-me enquanto repito gestos matinais. Lavar o rosto. Esfregar os dentes. Espalhar o creme hidratante. Depois a base compacta que esconde poros, borbulhas, imperfeições, manchas. Volto a olhar a imagem do espelho. Tem os olhos rasos de água. Coitada. Um mar de escuridão dentro deles. Estende os braços. Parece querer abraçar-me. Borrifo-me de lavanda. Fujo-lhe. Apago a luz. Era o que mais faltava. Detesto cenas de comiseração logo pela manhã.