2007/02/15

Bíblia (3)

Levei a bíblia para dentro da igreja do cata-vento e estive a ler. Uma senhora lançou-me um olhar cheio de compaixão. Consoladinha, muito sonsa, baixei os olhos, aspirei o cheiro do chão encerado e das madeiras do altar, e continuei. Estive lá quinze ou vinte minutos. À saída, pisquei os olhos para cima. O céu ameaçava com nuvens pardas. Mal dei um passo pisei um cócó de cão. Um cócó que se espalhou pelos meus botins de 175 euros que, quase de certeza, não vou voltar a conseguir usar. Um cócó digno de um grand danois, aquele cão gigante que parece uma vaca. Um cocó que merece outro epíteto. Não era um simples cocó. Era um senhor cagalhão. O cheiro espalhou-se e eu, mal o senti, comecei a ter vómitos. Não é exagero. Quis sei lá quem que o meu nariz fosse grande, cyranesco, uma protuberância grotesca que dá nas vistas e assusta. A sua dimensão potencia, pois, os maus cheiros. Enquanto esfregava histericamente o pé num arbusto abri a bíblia que levava na mão e enfiei lá dentro o meu colossal nariz. Esperei, em vão, que o cheiro das sagradas páginas me aliviasse aquela agonia. Ma o sagrado livro não me salvou. E há três dias que estou com gases. Uma chatice. Agora, a falar a sério, não fui feita para ter fé. Sou muito corpo e pouca alma.