2007/02/28

Caetaninha

Do outro lado do mundo o meu pai pede as minhas medidas para comprar o sari branco que lhe pedi. Digo-lhe que tire as medidas pela Caetaninha, que, mais coisa, menos coisa, tem o meu corpo. Ele concorda. A esta hora, deve andar de volta dela a tirar-lhe as medidas do peito e do ventre. A Caetaninha é a empregada do meu pai. Lava, varre, cozinha, limpa. É silenciosa, e bonita, como uma sombra. Tem exactamente a minha idade. Aos quinze anos casou com um homem vinte anos mais velho. Teve dois filhos. Dizem as pessoas da aldeia que não é feliz. O marido bebe muito. No último dia pedi-lhe para tirar uma fotografia comigo. Ela acedeu e ajeitou a saia de ramagens verdes que trazia. No exacto momento em que o meu pai carregou no botão olhou para baixo. Perguntei-lhe por que não olhava de frente para a máquina. Respondeu-me, sem sorrir, com um ar grave de quem cumprira um dever, que as pessoas da sua casta olham sempre para o chão.