Perdi o comboio do costume. Para fazer tempo desci até à livraria da estação. Na prateleira dos livros de sexologia, dei de caras com um Kamasutra lésbico, um livrinho de capa vermelha, a anunciar pecados e devassidão. Não resisti e comecei logo a desfolhá-lo. Uma desilusão. Um logro. De uma pobreza franciscana. Não é sequer escrito por uma mulher. É escrito por um homem, insignificante (como quase todos os homens), cujo nome não recordo, que foi jornalista da TVI, que escreve actualmente na Flash, que foi responsável pelo Magazine do Big Brother e, como não podia deixar de ser, num país de literatos como é este, se assume como escritor. Ora, basta a gente ler o currículo da criatura e olhar-lhe para o trombil para perceber que o tipo é uma daquelas bichas irritantes, cheias de meneios femininos e voz nasalada. Mas como é que um homem, que é bicha, que não percebe um corno sobre mulheres, se atreve a escrever um kamasutra lésbico? Até eu, que não sou assumidamente lésbica, escreveria melhor sobre tal assunto. Irritada, atirei com o kamasutra lésbico para o fundo da prateleira. Para me acalmar trouxe um kamasutra clássico, ilustrado, cheio de mulheres contorcionistas, lingams erectos e vaginas que se assemelham a flores de lótus. Logo a abrir uma ilustração maravilhosa dos jogos amorosos de Shiva e Parvati.