2007/02/19

Marilyn

Estou na caixa da loja de brinquedos. Pago a peruca loira que comprei para a Tintim e o chapéu com uma grande pluma vermelha que o João, queira ou não queira, terá de usar no dia da peça de teatro. Aproxima-se uma mulher. Traz o cabelo pingado da chuva. Veste de preto para disfarçar o corpo, rubicundo. É vesga. Posso dizer, sem exagero, que é um verdadeiro estafermo. Apontando para o catálogo, pergunta à empregada “Olhe, desculpe, já não tem este fato da Marilyn?”. Espreito o catálogo que as suas mãos sapudas seguram. Ela quer aquele vestido branco, rodado, muito decotado que esvoaça quando a Marilyn passa por cima de um respiradouro. Solto para dentro, que é para onde sempre se devem soltar os palavrões, um valente foda-se. Perante a confirmação da empregada, a vesga remata com um “Que chatice!”. Eu fico a olhar para ela.