Às três da manhã acordei para tomar um comprimido para as dores. Enfiei na boca o primeiro analgésico que achei. Desperta, fui fumar um cigarro para perto do aquário. Fechei os olhos e as imagens sonhadas apareceram-me, nítidas, diante dos olhos: Alcântara feita de escombros e ruínas; uma igreja com telhados inclinados onde suínos anafados descansam; a escuridão num parque de estacionamento; um edifício antigo no meio de um arvoredo escuro, a tinta, cor de café, estalada, o estuque amarelecido pelo tempo, as janelas de carepa. Deitei-me. Voltei a sonhar. Sonhei que ateava, num dia limpo e quente, com um produto qualquer guardado num frasco lilás, um incêndio num apartamento contíguo ao meu. Tenho o assumido propósito de matar a mulher que lá mora. É a primeira vez que me sonho homicida. Não deixa de ser estranho que me sonhe homicida no dia em que experimentei o bem-estar de pechisbeque do yoga. Naturalmente, nunca mais lá ponho os pés. Corro o risco de me tornar numa onírica serial killer.