Hoje, falam sobre fetichismo ou, melhor dizendo, sobre feitiçismo. Homens que têm fixação, obsessão por determinadas partes do corpo ou por determinados objectos: luvas, sapatos, botas. Falam de parafilias, um palavrão totalmente desconhecido para mim. Falam de liberdade, ou melhor, da ausência de liberdade que ocorre nestas situações. Comentam o caso daquele homem que tinha uma fixação por mulheres amputadas. Daquele outro, filósofo de renome, que apenas atingia o clímax com mulheres vesgas (o Descartes, coitado!). Falam também do caso de um homem velho que, depois de ter atingido o melhor orgasmo da sua vida, enquanto se masturbava a mexer nas calcinhas sujas de uma sobrinha jovem, quase imberbe, nunca mais procurou a sua legítima mulher, velha como ele, provavelmente com carnes flácidas, varizes, rugas, pés-de-galinha, papada, as unhas dos pés amareladas, os cabelos do púbis ralos, raros e grisalhos. Deixo-me ficar a ouvi-los. Gosto de ouvir falar de orgasmos, infidelidades, calcinhas, erecção, vaginas, pénis, relações, masturbação, coitos, obsessões, estímulos sexuais e toda essa panóplia de gestos e actos que fazem o sexo, enquanto tricoto o cachecol verde da minha filha.
(cada vez que o oiço na antena 1, lembro este texto escrito, há tempo, noutro berloque.)