2007/02/09

Helena Andreevna

Ali, às portas de Santo Antão, comemos bacalhau com grão, temperado com cebola crua, salsa, e muitos dentes de alho. Ela, de unhas vermelhas (um vermelho da cor do licor de ginjas), picou os alhos com as mãos. Eu, também de unhas vermelhas (um vermelho da cor das framboesas), mais recatada, utilizei a faca e o garfo para os picar. Acabámos a refeição com um hálito, pesado, denso, que só deve passar daqui a uma semana. Ainda estou a arrotar a cebola. Estou até um bocadinho mal disposta. Tem razão a minha filha, quando, perante o meu inusitado desejo de ir viver para o outro lado do mundo, me pergunta se eu era capaz de viver longe da Maria Emília. Não era. Quem tem uma Helena Andreevna na vida não se pode dar ao luxo de a perder.