2007/03/16

Bonsai

No rés-do-chão do meu prédio mora uma italiana, simpática e parideira, que costumava colocar as suas bonsai a apanhar sol no parapeito. Espreguiçavam-se as arvorezinhas anãs, tortinhas, contentes com as cócegas que os raios de sol lhes faziam. Às vezes, quando passava junto do parapeito, ouvia umas gargalhadas pequenas e jocosas. Um ah-ah-ah. Ou um eh-eh-eh. Quase sempre um ih.ih-ih. Perguntei ao R. se notava algum barulho estranho quando passava junto da casa da vizinha italiana. Disse-me que não. Só mais tarde percebi que as bonsai se riam de mim. Só precisavam da mornidão do parapeito para ser felizes. Desdenhavam, por isso, a minha habitual sobranceria, a minha injustificada sisudez. Aborreceu-me a felicidade e o atrevimento daquelas árvores. Um dia roubaram uma das nipónicas árvores da vizinha italiana, que, insultando a selvajaria dos portugueses, nunca mais voltou a mostrá-las no parapeito. Juro que não fui eu.