A semana passada vi um dvd do Sexo e a Cidade. Às tantas, num episódio qualquer, à mesa do pequeno almoço, a Charlotte confessa nunca ter visto a sua vagina. As outras soltam gritinhos, escandalizadas perante tal revelação. Encolhi-me no sofá. Na altura, não dei muita importância ao facto. Esqueci-me. Porém, nos últimos dias tenho pensado no assunto. É estranho. Sei como são os meus pés. Sei como é o formato das minhas orelhas. Conheço a flacidez das minhas mamas. E a secura dos meus cotovelos. Porém, não sei como é a minha vagina. Assim como não sei como é o meu rabo. Nem sei como são as minhas costas. Que curvas se insinuam nas minhas costas? A pele é lisa, uniforme, ou manchada como o início das minhas pernas? Dei, então, conta que desconheço metade do meu corpo. Que nunca o vejo. Isso aborrece-me. Eu vivo com o meu corpo. Resolvi, por isso, tratar do assunto. Na impossibilidade de revirar a cabeça para olhar o meu traseiro e as minhas costas, decidi olhar aquilo que estava mais à mão. Ontem, depois de alguns minutos de estudo, abandonei os trogloditas nas suas cavernas, coloquei o Joe Dassin, que também é uma espécie de troglodita, a cantar e fui para o meu quarto.