2007/03/19

Brooklyn (1)

Resolvi não gostar do livro do último Paul Auster. Ando numa fase de negação. Essa é que é essa. Ontem, depois de ler algumas páginas, deitei-me desiludida, considerando-o um escritor irrecuperável, achando as loucuras de brooklyn um livro menor na galeria dos seus romances. Deitei-me aliviada por estar quase a terminar o seu último livro, querendo, quanto antes, mergulhar no mar de madrid que, escrito por um português, não traz o tormento do texto traduzido. Já de luz apagada, continuei a vilipendiar o Paul Auster. É que, ainda por cima, sem eu querer, sem eu lhe dar autorização, teve a ousadia de me explicar Mallarmé. Eu sou praticamente analfabeta. É um facto. Tenho noção disso cada vez que leio o jornal, cada vez que vou a uma livraria. Ora, acontece que, há meia dúzia de dias, folheando um livro, deparei com o nome Mallarmé. Encolhi-me. Não sou capaz de o enquadrar seja no que for nem de lhe apontar uma obra. Decidi nesse instante que teria de o procurar, de lhe tirar medidas. Há tanta gente que enche a boca cada vez que pronuncia a palavra Mallarmé. Também quero. Sucede que descobri quem foi Mallarmé nas páginas do livro do Paul Auster, quando Tom a caminho de Vermont, numa verborreia literária insuportável, debita factos, nomes e datas. Ora, eu queria descobrir sozinha a importância de se chamar Mallarmé. Não queria que o Paul Auster, tutelar, professoral, me explicasse. Adormeci, pois, levemente irritada com o escritor nova iorquino e, noite fora, sonhei com laranjeiras e castelos.