No público, a imagem terrível da lapidação de uma mulher. Um corpo bonito e jovem. Nele existe a ondulação do mar e o breu das florestas nocturnas. Olho para aquele corpo, torcendo-se, como a mecha de uma candeia, e vejo um corpo de mãe, um corpo-cabaça, um corpo-casa. Dua Khalil Aswad tinha 17 anos. Era curda e foi apedrejada até à morte por uma multidão de mil homens, entre eles, irmãos e tios. Foi morta por querer casar com um muçulmano. O seu apedrejamento foi filmado e fotografado pela chusma viril que atirou pedras, que insultou, que gritou. Depois, como um troféu que se exibe, colocaram a sua morte no youtube. Lembrar-nos-emos, talvez, desta mulher durante alguns dias, condoídos com a sua dor e humilhação. Alguns, falarão com revolta, carregarão o cenho, exigirão mudanças, garantias, que nunca mais volte a acontecer. Depois a imagem de Dua Khalil tornar-se-á difusa. Acabaremos por esquecê-la. Acabamos sempre por nos esquecer.