Na altura, ficou furiosa e, tal como acontecia sempre que era contrariada, começou-lhe a tremer uma vista e a ter pequenos espasmos nervosos. Só mais tarde, um dos formadores explicou que a Ana Clara, a outra que morava nos Anjos, perto das putas e dos proxenetas, padecia de um qualquer distúrbio que a obrigava a acompanhamento psiquiátrico. Apesar da sua demência, tenho de confessar que não gostava dela. Não tinha pena dela. Nem um pinguinho. Não me comovia a sua tristeza e a sua solidão. Sobretudo incomodava-me que uma pessoa assim, com uma voz tão feia, com um ar tão apagado, uma chatarrona, sempre a comer papo-secos com manteiga, tão só, tão infeliz, pudesse transportar durante toda a vida o meu nome. Nunca mais conheci ninguém que tivesse o meu nome. Há uns dias atrás, porém, o meu ginecologista disse que a sua terceira filha, que nascerá ainda em Maio, se chamará Ana Clara. Portanto, para além da tal rapariga que morava na Rua dos Anjos e que gostava de animais, sei que, em Maio, nascerá uma menina que viverá nesta cidade e que transportará o meu nome.