Para além de Ana, tenho um outro nome. Clara. Chamo-me Ana Clara. É um nome bonito, pouco comum, invulgar mesmo. Ana é como Maria. Combina bem com muitos outros nomes. No entanto, esta conjugação de Ana com Clara, apesar de bonita, não seduz muita gente. Conheço muitas Anas Ritas, muitas Anas Marias, muitas Anas Margaridas, uma infinidade de Anas Catarinas e de Anas Cristinas, algumas Anas Sofias, duas Anas Rosas, uma Ana Madalena, uma Ana Manuel e até uma Ana Miguel. Durante muito tempo, achei que este nome, Ana Clara, só a mim me pertencia. Tal como a minha voz, como a minha caligrafia, como o feitio das minhas mãos, como a mancha, enorme, cor de canela, com o recorte do mapa da Inglaterra, que tenho, desde nascença, na perna esquerda, também o meu nome só a mim me definia e se adequava. Até aos vinte anos vivi na ilusão de que era a única Ana Clara no mundo. Sabia que deviam existir outras pessoas no mundo com o meu nome, mas eu não as conhecia e, por isso, era como se não existissem. Até que aos vinte e um anos, finalmente, conheci uma pessoa com o mesmo, o mesmíssimo, nome que eu. E foi terrível. Eu conto.