2008/01/15

Primárias

Escolhemos um ou outro em função do acessório, do que não é político. Eu confesso-me mais inclinada para o Obama. Nem sei bem porquê. Apesar de mulher, há qualquer coisa na Sra. Clinton que não me agrada. Não é só o facto de ser loira. É demasiado cerebral e calculista. É capaz de aguentar todos os dissabores e contrariedades para levar a bom porto os seus desígnios. Não aprecio tanta determinação. Depois irritou-me o derrame certeiro daquela lágrima antes das eleições no New Hampshire. Quis mostrar que não é de ferro. Pelo contrário, é mulher e as mulheres choram. Não gostei daquela lágrima. Ficou-me atravessada. O choro, sendo próprio das mulheres, requer discrição e recolhimento. Não se chora em público a não ser que seja para convencer alguém daquilo que não somos. Já o Obama é afro-americano, um negro quase branco ou um branco quase negro, bonito, o que não é de desprezar tendo em consideração a frequência com que o novo presidente dos Estados Unidos nos vai aparecer pela frente, com reconhecidos dons de oratória, capaz de galvanizar os cépticos e entusiasmar os indecisos. É pouco. Mas é o que há. Só não gosto da mulher dele, a Michelle, que usa a carapinha lisa e tesa, com as pontas reviradas para fora, e que, nos comícios, se enlaça na cintura do marido como uma autêntica lapa. Eu não aguentava uma mulher assim. Livrava-me dela.

(Nada se discute. Ficam para segundo plano as ideias e as propostas. A raça, o género e tudo o resto continuam a ser determinantes nas nossas escolhas.)